Para não dizerem que são as palavras de um comunista, de um bloquista ou mesmo de um socialista, recordo Paulo Morais, que foi Vereador do PSD no Porto e que escreveu no Jornal de Notícias, no dia 24 de Novembro de 2010: HOJE FAÇO GREVE. Portanto há 1 ano atrás. E não é que 1 ano depois e com um governo novo o artigo de opinião é perfeitamente actual.
Hoje faço greve. Porque me angustia o rumo que o país leva, a deterioração crescente do nível de vida dos portugueses. O crescimento do desemprego, a manutenção de salários de miséria, a par do aumento de impostos, transformaram a vida dos mais necessitados num inferno. Há frigoríficos vazios em muitas casas, rendas por pagar, famílias insolventes. Centenas de milhar estão numa agonia, reféns dos malfadados créditos ao consumo a taxas de 30 por cento. Aumentam os sem-abrigo nas ruas das áreas metropolitanas, cresce o consumo e tráfico de droga. Com mais assaltos e até mais suicídios, o ambiente social é explosivo. Só por isto faria greve.
Mas também porque estou revoltado com os partidos políticos que capturaram o regime e transformaram a actividade política numa megacentral de negócios. A corrupção instalou-se, o tráfico de influências é a regra, com uma promiscuidade permanente entre os maiores escritórios de advogados e os gabinetes governamentais, entre o Parlamento e os grandes grupos económicos. Neste panorama pantanoso, a maioria dos políticos tem hoje apenas três objectivos: manter os mandatos, bem como os privilégios que estes lhes conferem, obter negócios para os seus financiadores e apoiantes à custa dos recursos públicos e, por último, distribuir empregos e "tachos" pelos seus apaniguados. A política é hoje a "porca em que quase todos mamam" de que falava Bordalo Pinheiro.
Finalmente, faço greve porque as medidas recentemente anunciadas são contrárias às que o país precisa. Sem qualquer estratégia coerente, o intuito do governo português parece ser apenas aumentar a dívida pública, acautelando rentabilidades obscenas a quem a financia; a par da teimosia nas parcerias público-privadas que garantem aos privados todos os lucros e socializam todos os prejuízos. Para pagar estes desmandos, reduzem-se salários e aumentam-se impostos uma vez mais. Assim se irá liquidar a pouca actividade económica que heroicamente subsiste. Por isso, também pelo futuro da nossa economia, adiro à greve.
E faço greve, enfim, porque não posso fazer a revolução.
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