sábado, 10 de dezembro de 2011

Donos do Mundo


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in Algarve Mais, Dezembro de 2011

Thomas Jefferson, disse em 1802, portanto há 209 anos atrás: “Acredito que os bancos são mais perigosos para as nossas liberdades do que os exércitos. Se o povo Americano alguma vez permitir que bancos privados controlem a emissão da sua moeda, primeiro pela inflação, e depois pela deflação, os bancos e as empresas que crescerão à roda dos bancos despojarão o povo de toda a propriedade até os seus filhos acordarem sem abrigo.”

Jefferson não foi um qualquer radical, foi o principal redator da declaração de independência dos EUA e foi o 3º Presidente norte-americano. Pelo andar das coisas, a visão de Jefferson vai-se concretizar e na Europa como nos EUA uma grande parte da população vai cair na pobreza.

Os bancos, os fundos de investimento, o poder financeiro das multinacionais, com as mãos muito livres, são os novos donos do mundo, ganharam uma dimensão asfixiante e uma vida própria que não respeita a vida humana, ganharam uma dimensão e um poder que esmaga a vida humana. Hoje em dia, há quem aponte que 90% dos milhões de milhões de euros que circulam sem parar diariamente pelo mundo não têm nada a ver com a produção ou comércio de bens ou serviços, não têm nada a ver com emprego nem salários. Hoje em dia, 90% dos milhões de milhões de euros que circulam pelo mundo movem-se no campo da especulação, de criar lucro com compras e vendas especulativas de ações, moedas, produtos futuros.

Chegámos a este ponto a reboque de uma ideologia neo-liberal, com a crescente desregulação dos mercados financeiros a partir da década de 1980, com a justificação que a liberalização financeira iria permitir uma melhor movimentação internacional e uma aplicação do capital onde ele fizesse mais falta, potenciando um grande crescimento económico mas o resultado não foi esse. Não só não se cumpriu nenhum paraíso na terra como o crescimento da finança desregulada acompanhado do crescimento do poder das multinacionais é equivalente à crescente sucessão de crises que ameaça tornar-se numa depressão económica jamais vista.

Nas 100 maiores economias do mundo estão 42 empresas multinacionais, essencialmente das áreas do petróleo, banca, seguros, telecomunicações, farmacêutica, agrotóxicos, supermercados e indústria automóvel. As maiores 500 empresas do mundo têm um lucro total equivalente a um terço do rendimento mundial. São os donos do mundo.

Portugal tem um Produto Interno Bruto anual de 167 mil milhões de euros. À frente de Portugal estão uns 35 países e atrás uns 150 países. Mas, o Royal Bank of Scotland tem ativos no valor de 2 500 mil milhões de euros, a Shell tem vendas no valor de 333 mil milhões de euros e a ExxonMobil tem um valor de 243 mil milhões de euros de euros. E os fundos de investimento da Bridgewater Associates têm 42 mil milhões de euros e os da Pimco têm 18 mil milhões de euros. Em Portugal as vendas das maiores 50 empresas superam os 50 mil milhões de euros

Os Estados, assim como os trabalhadores e os consumidores, perderam poder para as multinacionais e fundos de investimento, que por sua vez arrastam os salários para baixo e concentram o lucro numa escassa classe de super-ricos, 1% da população, destruindo a classe média e atirando para a pobreza uma grande parte da população.

Foi quebrado um contrato social entre o capital e o trabalho que tinha sido instituído após a Grande Depressão da década de 1930 e após a II Guerra Mundial. O medo da ascensão da URSS e da luta dos trabalhadores, o medo dos horrores das 2 guerras mundiais, geraram um contrato social na Europa e nos EUA baseado na valorização do trabalho e do salário, no desenvolvimento da Segurança Social, na presença do Estado na Economia e em setores estratégicos, no espaço para as Pequenas e Médias Empresas.

Este contrato, que foi o grande responsável pelo desenvolvimento da Europa e dos EUA, foi rasgado pelo capital, pela escassa classe de super-ricos de 1% da população, que já não querem repartir lucros com o resto da população.

Ainda há pouco tempo estava a ver o humorista norte-americano, Jon Stewart, na TV a dizer que a guerra de classes está de volta e são os super-ricos que estão a atacar a maioria da população. Mas se o contrato social foi quebrado e a guerra de classes está de volta, também estarão de volta as convulsões sociais, as revoltas e as revoluções. Os debaixo, a maioria da população, podem estar ainda acomodados ou iludidos mas tanta pobreza e vidas precárias explodirá mais cedo ou mais tarde.

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