sábado, 14 de janeiro de 2012

O fim do trabalho

in Algarve Mais, Janeiro 2012



Em janeiro de 2010, escrevi na Algarve Mais, que o desemprego no Algarve, em 2009 tinha duplicado e que ia crescer. Em outubro de 2009 tínhamos 20.000 desempregados e já tinham duplicado em relação aos anos anteriores.

2. Em outubro de 2011 tivemos 24.000 desempregados, aos quais se juntarmos os que já nem se interessam por estarem inscritos como desempregados e aqueles que não contam para as estatísticas porque fazem uns biscates, vamos a caminho dos 30.000 desempregados no Algarve. Todos juntos, é possível que já tenhamos, no Algarve, uma taxa de desemprego efetiva à volta dos 15% - um valor assustador!

3. O desemprego cresce no Algarve e em Portugal. A crise ajuda mas também o fato de termos tido governo, de Cavaco a Sócrates, passando por Guterres, Durão, Portas e Santana, que ajudaram à destruição da agricultura, pesca e indústria. Nos dias de hoje, os cortes e a austeridade de muitos governos, como o português, também ajudam.

4. Mas o desemprego cresce transversalmente por todo o mundo e daqui a uns poucos anos poderemos chegar à conclusão que não é possível recuperar. Está a desenvolver-se uma Revolução Informática que pode não ter paralelo na história, nem com a Revolução Industrial de há 200 anos, nem com Revolução Tecnológica de há 100 anos.

5. As Revoluções Industrial e Tecnológica proporcionaram um desenvolvimento da indústria e dos serviços que destruí empregos nalguns setores mas acabou por criar empregos em massa. Já a Revolução Informática pode estar a destruir mais empregos do que os que cria, não só no setor industrial como também nos serviços. O multibanco, as caixas automáticas nos supermercados ou nas portagens são só uns poucos exemplos. É uma tendência que se irá alargar a quase todos os serviços: máquinas e sistemas inteligentes com potencialidades quase ilimitadas.

6. Haverá sempre gente a trabalhar para criar novas máquinas e sistemas, será sempre necessário alguém para os operar, mas cada vez menos gente será necessária porque as máquinas e os sistemas estão cada vez mais interligados e são cada vez mais independentes.

7. Há 30 anos atrás talvez fossem precisas 100 pessoas para fazer 1000 automóveis em 100 dias e agora são precisas 50 pessoas para fazer 2000 automóveis em 50 dias. Em geral, graças às informática, temos mais produtos para consumir mas temos menos emprego na produção.

8. Mas, também, pela primeira vez na história, podemos estar perante uma situação em que não haverão setores económicos capazes de absorver a massa crescente de desempregados. Os setores com maior potencial, as energias renováveis, as tecnologias de informação, a saúde e a geriatria vão gerar emprego e bons salários mas serão incapazes de absorver a crescente massa de desempregados.

9. Mesmo nas energias renováveis, estão-se a criar bastantes empregos para fabricar e montar painéis solares e torres eólicas, mas após a instalação esses empregos desaparecem e a manutenção desses equipamentos empregará muito menos pessoas.

10. No entanto, mais desemprego é igual a menos salários, a menos rendimento, a menos consumo e mesmo os setores económicos com maior potencial podem crescer menos face a menos disponibilidade para o consumo. Pelo que, a sociedade capitalista tal qual a conhecemos baseia-se no consumo, num consumo massificado e sem consumidores será o colapso.

11. Uma coisa parece certa: no futuro, a nível mundial, máquinas e sistemas inteligentes com potencialidades quase ilimitadas farão do trabalho um bem escasso e muito dele de baixo valor. Tornando-se o trabalho um bem escasso, significa que terá de ser dividido pela mão de obra disponível. Países com 15%, 20% ou mais de desemprego permanente, colapsarão. Dividir o trabalho significa trabalhar-se menos horas e reformar-se mais cedo, para que todos possam ter oportunidade de acesso ao trabalho, ao contrário do que se está atualmente a fazer em Portugal e na Europa, que estão a aumentar o horário de trabalho e a idade da reforma.

12. Dividir o trabalho sem uma perda acentuada de salário obriga a uma correta distribuição da riqueza, ao contrário do que acontece atualmente na Europa e nos EUA. E há margem para isso. Segundo um artigo publicado no New York Times, de 4-9-2011, nos EUA, de 1947 a 1979, a produtividade e os salários aumentaram a um ritmo semelhante mas, de 1979 a 2009, a produtividade aumentou 80 por cento e os salários apenas 8 por cento. Em 1979, o 1 por cento do topo da pirâmide social, os super-ricos, tinham apenas 10 por cento da riqueza nacional mas passaram para 23,5 por cento em 2009. Muito parecido ao pico de 1929, antes da explosão da Grande Depressão. De 1947 a 1979, todas as classes viram os seus rendimentos subirem equilibradamente mas, de 1979 a 2009, os 25 por cento do topo tiveram mais ganhos que os restantes 75 por cento da população, esmagando as classes média e baixa.

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