segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Preocupem-se mais com os problemas de Portugal

in Algarve Mais, Janeiro de 2010

Andam o Governo e o PSD muito preocupados com os “mercados”. Têm a sua importância relativa mas deveriam estar mais preocupados com o presente e o futuro de Portugal. Paul Krugman, norte-americano e prémio Nobel da Economia, disse recentemente e muito a sério: os “mercados” querem dinheiro para cocaína e prostitutas.

Os “mercados” são na realidade jovens recém-diplomados com menos de 30 anos, provavelmente com a mesma inteligência de um estudante do ensino secundário, desenhando estratégias caóticas de negociação de acções/títulos e reportando a chefes que serão apenas 5 anos mais velhos que eles. São jovens que só pensam, e mal, o futuro no prazo máximo de 3 meses e não estão preocupados com o futuro de países e empresas a médio e longo prazo (4 ou mais anos). Até porque num espaço de 4 anos já terão sido promovidos ou despedidos e não se preocuparão mais com os países e empresas que agora fazem tremer.

Não existe vontade na Europa e nos EUA para mudar esta realidade, nem para controlar os excessos dos bancos, especuladores e grandes empresas. Não é o voto dos cidadãos que manda mas sim esses poderosos interesses. Não vivemos em democracia pura mas sim numa democratura: democracia de voto e ditadura do capital. O Governo português não tem poder, nem talvez visão, para mudar esta realidade mas então que se concentre em resolver os problemas do nosso futuro.

1. Endireitar as contas públicas

Reduzam a despesa anual do Estado em, pelo menos, 6 mil milhões de euros. Cortem nas empresas públicas, institutos e fundações fantasma, nos tachos, nas nomeações e nos salários milionários, nos gastos comemorativos, nas obras sem concurso público, nas ruinosas parcerias publico-privadas que custam mais do que um empréstimo bancário.

Apliquem um contributo verdadeiramente proporcional na parte da receita e vão rebuscar 1,5 mil milhões de euros com o fim dos benefícios fiscais individuais (bancos e grandes empresas), taxando 20% as transferências para os paraísos fiscais e as mais valias bolsistas (acabando com a vergonha de casos como a PT em que os grandes não pagaram imposto nenhum), taxando extraordinariamente os grandes lucros e os produtos de luxo.

O contributo tem que ser proporcional e não podem ser só as classes média e baixa a pagar a crise. Nas medidas dos PEC e do Orçamento de Estado, 60% são cortes e aumentos de impostos sobre os trabalhadores, 30% são cortes no Estado que afectam serviços públicos cujos utilizadores são as classes baixa e média e somente 10% são o contributo de grandes empresas, bancos, etc. São os pobres que pagam a crise criada pelos ricos!

E não me digam que taxar a riqueza impede o investimento, nem que é um discurso demagógico sobre os ricos. O próprio milionário e investidor Warren Buffet disse que nos EUA a redução dos impostos sobre os super-ricos apenas e só os tornou mais ricos enquanto o americano médio não foi a lado nenhum, ficou sempre na tremideira. O FMI publicou um estudo concluindo que a crise financeira foi provocada pelo aprofundamento do fosso entre pobres e ricos. Tal como aconteceu na Grande Depressão, a crise financeira resulta da concentração de riqueza nos mais ricos e o crescente acesso ao crédito dos mais pobres, sem recursos para viver nas sociedade modernas. Nos EUA, entre 1983 e 2007, a parte do rendimento nacional detido pelos 5% mais ricos aumentou de 22 para 34%... Mais riqueza para uns poucos menos riqueza para muitos mais...

2. Eficiência Pública + Educação + Saúde + Justiça + Segurança

Tenham coragem e competência para desburocratizar totalmente o Estado, para o destacamento de funcionários públicos de acordo com as necessidades reais, para descentralizar através da regionalização e para acabar com o buraco negro de Lisboa, o sorvedouro de recursos e pouco preocupado com o resto do país produtor, para que o poder público seja mais transparente e próximo dos cidadãos. Melhores serviços com menos custos

Na Educação gastamos tanto ou mais que a média da Europa e os resultados parecem estar a evoluir mas são insuficientes para recuperar rapidamente o nosso atraso de conhecimentos e cultural. Apesar das estatísticas, temos uma escola facilitista, cheia de teorias e vazia de conhecimento. Temos gente a mais no Ministério da Educação e professores a menos a dar aulas. Na Saúde, essencial para a qualidade e conforto de vida, a ameaça de caos é real. E sem uma Justiça rápida e eficiente, tudo se arrasta nos tribunais e não é possível desenvolver o país.

3. Produção + Emprego

Parte substancial do investimento público deve ser canalizado para as micro, pequenas e médias empresas, e para a inovação. Produzir mais para exportar mais e importar menos. Produzir produtos que podem ser comercializados em lugar de enterrar dinheiro em betão como nos últimos 20 anos. Enquanto não se focalizar o investimento na economia produtiva não haverá emprego suficiente.

Foquem-se no importante e não no acessório da redução de salários (já baixos) e nas flexibilizações (no país da Europa com mais emprego precário). Como disse Pedro Guerreiro no “Negócios online”, 7/12/2010: aumentar a competitividade não pode ser apenas gerir o factor de produção trabalho. Até as empresas portuguesas reconhecem que é mais importante o custo da energia e factores como os juros, impostos, transportes, matérias-primas. Enquanto as atenções não estiverem inteiramente viradas para a inovação, investimento tecnológico, qualificação e melhoria das capacidades de gestão continuaremos numa economia fraca baseada no custo do trabalho e batida por muitos outros países.

1 comentário:

  1. O elemento primordial do controle social é a estratégia da distracção, que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e económicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundação de contínuas distracções e de informações insignificantes. A estratégia da distracção é igualmente indispensável para impedir que o público se interesse pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado; sem nenhum tempo para pensar; de volta à granja com outros animais”.

    Noam Chomsky

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