sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Párem de mimar os super-ricos

Párem de mimar os super-ricos, escreveu Warren Buffett, no New york Times.

O terceiro maior milionário do mundo disse que ouviu os governantes dizer que os sacrifícios eram para todos mas os super-ricos ficaram de fora dos sacrifícios, enquanto a maioria dos americanos luta para conseguir fazer chegar o seu dinheiro ao fim do mês.

Warren Buffet até diz que muitos dos super-ricos até não se importariam de pagar mais impostos mas após, anos de favorecimentos e políticas de direita dos Bush, através de facilidades fiscais e da baixa tributação dos dividendos accionistas, pagam apenas 15% de impostos, quando em 1977 pagava 40% de imposto nos seus dividendos accionistas. Quem trabalha com ele pagou entre 22% e 41%.

Já há algum tempo atrás tinha lido um artigo de opinião em que Warren Buffet dizia que desceram os impostos aos ricos com a desculpa que iriam ter mais dinheiro para investir e para criar empregos e nada disso aconteceu. Nos EUA, desde 1979 os rendimentos de 1% de famílias super-ricas aumentou quase 400% e os rendimentos de 80% das famílias ficou na mesma ou caiu.

Em Portugal, os imposto extraordinário de 50% do subsidio de natal não se aplica aos dividendos accionistas e aos juros dos depósitos, grandes rendimentos dos nossos milionários.

Os sacrifícios não são para todos e de certeza que não foram os trabalhadores e os pensionistas que criaram esta crise mas agora vão pagá-la.

Pensem com a cabeça e não com os pés.

Podem ler o artigo em inglês em http://www.nytimes.com/2011/08/15/opinion/stop-coddling-the-super-rich.html

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Pensámos que os mercados funcionavam, mas não é isso que está a acontecer.

Nouriel Roubini, economista norte-americano, em 2005, avisou para o perigo de uma crise explosiva do imobiliário nos EUA. Chamaram-no de louco. Em 2007, a crise rebentou nos EUA, um banco faliu e outros não faliram porque o Estado injectou-lhes milhões.

Em Junho deste ano, Roubini, afirmou que corria-se o risco de, em 2013, explodir a maior crise que o mundo já teve. Já em Agosto, disse que evitar uma nova recessão mundial pode ser uma missão impossível.

Roubini vai mais longe e agora diz que “Karl Marx acertou: a certa altura, o capitalismo pode autodestruir-se”.

Roubini não é comunista, bloquista ou socialista. É de direita e diz:

“Assistimos a uma redistribuição maciça do trabalho para o capital, dos salários para os lucros, a desigualdade de rendimentos e de riqueza aumentou. Esta redistribuição faz com que o excesso de capacidade e a falta de procura agregada sejam ainda piores. Karl Marx acertou: a certa altura, o capitalismo pode autodestruir-se porque não se pode continuar a transferir rendimento do trabalho para o capital sem que se gere excesso de capacidade e défice de procura agregada. E é isso que se está a passar. Pensámos que os mercados funcionavam, mas não é isso que está a acontecer. O que é racional do ponto de vista individual – cada empresa, para sobreviver e prosperar, corta os custos laborais cada vez mais –, ignora que os meus custos laborais são os rendimentos e o consumo de alguém. É por isso que este processo é autodestrutivo. Não se pode resolver o problema com liquidez. Quando existe demasiada dívida ou se supera a situação através do crescimento ou da poupança. Mas se toda a gente gasta menos e poupa mais nos sectores público e privado, então estamos perante o paradoxo keynesiano da poupança e podemos ter uma depressão.”

sábado, 13 de agosto de 2011

Beco sem saída



Publicado na edição de Agosto de 2011 da Revista Algarve Mais

1. Portugal corre o risco de fechar a porta, de abrir falência. Temos uma enorme dívida ao estrangeiro, cerca de 450 mil milhões de euros, da qual só cerca de 150 mil milhões de euros é do Estado e o resto é dos bancos e das empresas privadas.

2. Não temos economia, não temos produção, não temos produto, não temos comércio, não temos lucros, não temos crescimento para pagar essa dívida. A nossa produção, o nosso Produto Interno Bruto, vale 160 mil milhões de euros anuais

3. O Estado ficou muito perto de não conseguir pagar os juros que estão correr e os reembolsos dos empréstimos antigos, pelo que o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu vêm cá injetar 80 mil milhões de euros para o Estado poder pagar as suas dívidas.

4. Mau negócio. Pedir dinheiro emprestado para pagar empréstimos apenas nos torna mais endividados. Especialmente porque não temos, nem teremos economia para pagar tanta dívida, mais a nova do FMI e do BCE. Aliás, com a agravante de que o FMI e o BCE, com a colaboração de PSD, PS e CDS, vão praticar políticas governamentais que vão criar mais crise e menos produto para podermos pagar a dívida.

5. Começando por Cavaco e continuando por Guterres, Durão, Santana, Portas, Sócrates e agora Coelho e novamente Portas, o nosso país foi moldado para a ruína. Desde Cavaco entraram e circularam em Portugal 130 mil milhões de euros, de fundos comunitários e privatizações, que não foram utilizados para desenvolver a nossa economia, investindo na produção (agricultura, pesca e indústria), na educação (que hoje é uma mentira), na tecnologia e inovação (muito teórica e pouco prática) e na organização, a todos os níveis, de alto a baixo, no Estado e no setor privado, descentralizando e desburocratizando o Estado, apostando no associativismo privado.

6. Mas se nós pagamos para não se produzir na agricultura, pesca e indústria, outros países europeus, principalmente a Alemanha, fizeram-nos correr atrás dessa cenoura enquanto tornaram a sua indústria mais competitiva congelando salários (na Alemanha, os salários brutos nominais aumentaram 1% entre 1996-2006, enquanto que no resto da zona euro cresceram quase 2,8%) e beneficiando de uma engenharia cambial com a criação do Euro, porque a Alemanha tem hoje uma moeda muito mais fraca do que teria se tivesse o Marco e Portugal tem uma moeda muito mais forte do que normalmente estaria o Escudo. A grande produção alemã e o seu excedente comercial são o reverso da moeda do nosso défice e da nossa dívida.

7. Não, não somos malandros. Consultando dados estatísticos europeus, em comparação aos alemães, trabalhamos mais horas por semana, temos menos dias de férias, temos reformas mais tarde. O problema em Portugal é a falta de organização e a falta de qualidade empresarial (encostados aos gordos lucros dos contratos assinados com o Estado ou dos setores sem concorrência real), aliadas à excessiva burocracia estatal. Estas são as razões nacionais da nossa crise.

8. Mas Portugal, e a Grécia, Irlanda, Itália e Espanha, também foram apanhados nos meio dos interesses particulares da Alemanha e de um guerra do Dólar contra o Euro, com as agências de rating a defender a sua própria especulação e a defender o Dólar, que precisa ser revalorizado para garantir o seu escoamento internacional.

9. As políticas do Governo e da troika não respondem ao essencial e apenas nos vão levar para a ruína. Com recessão prolongada, não vamos poder pagar a dívida, vamos arrasar a economia e a maioria da nossa população e, no fim, o resultado será apenas passar para os grandes grupos privados os lucros certos da REN, Galp, Águas de Portugal, CTT, etc., dando continuidade ao desastroso atual modelo económico.

10. De uma maneira ou de outra, são cada vez mais os economistas que dizem que a situação é insustentável: Paul Krugman e Joseph Stiglitz, norte-americanos e prémios Nobel da economia; Nouriel Roubini, o economista norte-americano que previu a crise; Heiner Flassbeck, economista-chefe alemão da ONU; James Galbraith, economista norte-americano que avisa sobre as opções de uma política de investimento com escala europeia e de verdadeiro apoio aos países periféricos ou a desagregação da União Europeia com uma configuração que a centre entre a Alemanha e a Europa de Leste (um novo mercado mais atrativo e mais perto que o sul).

11. Como não parece que a Alemanha tenha muito interesse nos países do sul, o economista português, João Ferreira do Amaral, para não se dizer que é só uma conversa de PCP ou BE, já disse que é melhor ir preparando a nossa saída do Euro e a renegociação da nossa dívida. Quer se goste ou não, vamos ser obrigados.

12. Mas pode não chegar. Até já ouvi Santana Lopes a dizer que chegámos ao fim de um modelo europeu-americano com a ascensão da China e da Índia e, se o mundo não se sentar à mesa para discutir e aplicar um novo modelo de equilíbrio a nível mundial, vamos ter o caos.