sábado, 13 de agosto de 2011

Beco sem saída



Publicado na edição de Agosto de 2011 da Revista Algarve Mais

1. Portugal corre o risco de fechar a porta, de abrir falência. Temos uma enorme dívida ao estrangeiro, cerca de 450 mil milhões de euros, da qual só cerca de 150 mil milhões de euros é do Estado e o resto é dos bancos e das empresas privadas.

2. Não temos economia, não temos produção, não temos produto, não temos comércio, não temos lucros, não temos crescimento para pagar essa dívida. A nossa produção, o nosso Produto Interno Bruto, vale 160 mil milhões de euros anuais

3. O Estado ficou muito perto de não conseguir pagar os juros que estão correr e os reembolsos dos empréstimos antigos, pelo que o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu vêm cá injetar 80 mil milhões de euros para o Estado poder pagar as suas dívidas.

4. Mau negócio. Pedir dinheiro emprestado para pagar empréstimos apenas nos torna mais endividados. Especialmente porque não temos, nem teremos economia para pagar tanta dívida, mais a nova do FMI e do BCE. Aliás, com a agravante de que o FMI e o BCE, com a colaboração de PSD, PS e CDS, vão praticar políticas governamentais que vão criar mais crise e menos produto para podermos pagar a dívida.

5. Começando por Cavaco e continuando por Guterres, Durão, Santana, Portas, Sócrates e agora Coelho e novamente Portas, o nosso país foi moldado para a ruína. Desde Cavaco entraram e circularam em Portugal 130 mil milhões de euros, de fundos comunitários e privatizações, que não foram utilizados para desenvolver a nossa economia, investindo na produção (agricultura, pesca e indústria), na educação (que hoje é uma mentira), na tecnologia e inovação (muito teórica e pouco prática) e na organização, a todos os níveis, de alto a baixo, no Estado e no setor privado, descentralizando e desburocratizando o Estado, apostando no associativismo privado.

6. Mas se nós pagamos para não se produzir na agricultura, pesca e indústria, outros países europeus, principalmente a Alemanha, fizeram-nos correr atrás dessa cenoura enquanto tornaram a sua indústria mais competitiva congelando salários (na Alemanha, os salários brutos nominais aumentaram 1% entre 1996-2006, enquanto que no resto da zona euro cresceram quase 2,8%) e beneficiando de uma engenharia cambial com a criação do Euro, porque a Alemanha tem hoje uma moeda muito mais fraca do que teria se tivesse o Marco e Portugal tem uma moeda muito mais forte do que normalmente estaria o Escudo. A grande produção alemã e o seu excedente comercial são o reverso da moeda do nosso défice e da nossa dívida.

7. Não, não somos malandros. Consultando dados estatísticos europeus, em comparação aos alemães, trabalhamos mais horas por semana, temos menos dias de férias, temos reformas mais tarde. O problema em Portugal é a falta de organização e a falta de qualidade empresarial (encostados aos gordos lucros dos contratos assinados com o Estado ou dos setores sem concorrência real), aliadas à excessiva burocracia estatal. Estas são as razões nacionais da nossa crise.

8. Mas Portugal, e a Grécia, Irlanda, Itália e Espanha, também foram apanhados nos meio dos interesses particulares da Alemanha e de um guerra do Dólar contra o Euro, com as agências de rating a defender a sua própria especulação e a defender o Dólar, que precisa ser revalorizado para garantir o seu escoamento internacional.

9. As políticas do Governo e da troika não respondem ao essencial e apenas nos vão levar para a ruína. Com recessão prolongada, não vamos poder pagar a dívida, vamos arrasar a economia e a maioria da nossa população e, no fim, o resultado será apenas passar para os grandes grupos privados os lucros certos da REN, Galp, Águas de Portugal, CTT, etc., dando continuidade ao desastroso atual modelo económico.

10. De uma maneira ou de outra, são cada vez mais os economistas que dizem que a situação é insustentável: Paul Krugman e Joseph Stiglitz, norte-americanos e prémios Nobel da economia; Nouriel Roubini, o economista norte-americano que previu a crise; Heiner Flassbeck, economista-chefe alemão da ONU; James Galbraith, economista norte-americano que avisa sobre as opções de uma política de investimento com escala europeia e de verdadeiro apoio aos países periféricos ou a desagregação da União Europeia com uma configuração que a centre entre a Alemanha e a Europa de Leste (um novo mercado mais atrativo e mais perto que o sul).

11. Como não parece que a Alemanha tenha muito interesse nos países do sul, o economista português, João Ferreira do Amaral, para não se dizer que é só uma conversa de PCP ou BE, já disse que é melhor ir preparando a nossa saída do Euro e a renegociação da nossa dívida. Quer se goste ou não, vamos ser obrigados.

12. Mas pode não chegar. Até já ouvi Santana Lopes a dizer que chegámos ao fim de um modelo europeu-americano com a ascensão da China e da Índia e, se o mundo não se sentar à mesa para discutir e aplicar um novo modelo de equilíbrio a nível mundial, vamos ter o caos.

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