domingo, 3 de julho de 2011

O fim do mundo



in Algarve Mais, Julho 2011

Estamos à beira do fim do mundo tal qual o conhecemos. O economista norte-americano Nouriel Roubini disse recentemente que se estão a juntar as condições para, em 2013, acontecer a “tempestade perfeita”. Na meteorologia “tempestade perfeita” significa que vários factores meteorológicos juntam-se para criar a tempestade mais destrutiva de todas. Roubini diz que a dívida e a escassez de dinheiro nos Estados Unidos, a possibilidade da Europa ter que reestruturar a sua dívida e colocar menos dinheiro nos credores, a estagnação económica do Japão e a desaceleração do crescimento da China podem criar a maior e mais devastadora crise mundial de sempre, já em 2013.

Muitos economistas e políticos fingem que não ouviram e só não o chamam de louco porque já o tinham feito em 2005, quando Roubini disse que estávamos à beira de uma crise do imobiliário nos Estados Unidos, que veio a rebentar em 2007 e a arrastar o mundo para a actual crise.

Também fingem que não ouvem Roubini a dizer que Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha vão ter de sair do Euro se este continuar fortemente valorizado, acrescentado eu, ao serviço dos interesses da Alemanha.

Tal como não fingem que não ouvem Paul Krugman, economista norte-americano e prémio Nobel, dizendo que Portugal não vai ser capaz de pagar a dívida, que os planos de austeridade não vão ter qualquer utilidade e vão apenas agravar a recessão. Krugman fala que a única saída para Portugal é reestruturação da dívida, definindo novos prazos de pagamento e mesmo juros mais baixos sobre a divida passada, em lugar de se pedir mais empréstimos para pagar empréstimos. Hoje até o PSD já admite a reestruturação da dívida, quando ontem chamava de irresponsáveis aos poucos que propunham essa medida. No entanto, só falam de reestruturação para daqui a 2 anos porque falta por jóias da coroa como os CTT, a REN e o resto da EDP e Galp no bolso de alguns amigos.

A realidade é que Portugal não tem economia para pagar a dívida atrasada quanto mais a nova que estão agora a contrair no Fundo Monetário Internacional, no Banco Central Europeu e na Comissão Europeia. E com a agravante das medidas de austeridade da troika FMI. BCE e CE irem alimentar a crise nos próximos tempos.

Quando os milhões da CEE começaram a entrar em Portugal, com Cavaco Silva a Primeiro-Ministro e com as privatizações de empresas públicas monopolistas ou semi-monopolistas, foi um fartar de dinheiro para destruir a agricultura, a pesca e a indústria e foi um incentivo tremendo para que o capital / investimento fugisse de empresas ligadas aos sectores produtivo para as acções das grandes empresas monopolistas.

No entanto, cerca de 1/4dos portugueses, 25% da população, puseram o PSD e o CDS no Governo. Apesar de não parecer que a maioria saiba o que Coelho e Portas assinaram com a troika, visto que os artistas passaram uma campanha a não querer falar das suas propostas. Preparem-se para a redução de salários, o aumento de impostos (que tanto vai afectar o turismo), o aumento das taxas dos hospitais, os cortes na educação e nas autarquias locais, etc. etc.. Preparem-se para mais crise sobre a crise.

As nuvens de tempestade são mais do que muitas sobre o nosso céu algarvio e sobre todo mundo. Muitos parecem fingir que não é grave e outros não ligam mas a crise está aí e vai piorar ainda muito mais.

O problema é de fundo: as economias ocidentais foram baseadas no consumo desenfreado e essa base está a ruir. O trabalho passou a ser um custo, a esmagadora maioria dos ordenados estão estagnados ou em queda nas economias ocidentais. Temos mais riqueza mas ela não é verdadeiramente redistribuída. Os consumidores vão desaparecendo e mesmo que se conseguisse inverter a tendência com a incorporação maciça da China no consumo, ao nível de, por exemplo Portugal, o mundo acabava no dia seguinte devido à falta de petróleo e da poluição gerada.

Não temos é pensadores, políticos, economistas ou filósofos à altura da crise, não temos gente para pensar como evitar a tempestade perfeita ou como sair desta encruzilhada. A maioria segue apressada para o abismo e a minoria que tenta escapar ao abismo é ignorada pela maior parte da população. Talvez também não tenhamos cidadãos à altura da crise.

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